segunda-feira, 15 de novembro de 2010

REUNIÃO DO G20: A GRANDE FARSA DO "CONSENSO DE SEUL"



Os capitalistas preparam uma nova ofensiva sobre as massas e as nações oprimidas, já que a pressão para a desvalorização das moedas nas semicolônias, como o real brasileiro, significará o incremento maior da inflação, elevando consideravelmente os produtos da cesta básica alimentar nestes países


 
REUNIÃO DO G20

A GRANDE FARSA DO "CONSENSO DE SEUL"

Tirou-se a foto conjunta dos chefes de Estado das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia reunidos nos dias 11 e 12 de novembro, na capital sul-coreana. Além dos "sorrisos dos cínicos", como manda o protocolo, foram anunciadas "importantes medidas" como parte de um "Plano de Ação" em que os países-membros do G20 devem "abster-se de desvalorizações competitivas de moedas". O que foi anunciado pomposamente como o "Consenso de Seul" é, na verdade, uma grande farsa porque não há acordo sobre como as metrópoles imperialistas e as principais semicolônias enfrentarão de forma conjunta a chamada "guerra cambial". Esta se reveste de uma acirrada disputa comercial inerente a uma economia capitalista mundial em crise, onde países e grandes grupos econômicos buscando incrementar positivamente suas balanças comerciais e lucros, disputam ainda mais predatoriamente o mercado globalmente, recorrendo cada vez mais a medidas protecionistas para preservar seus interesses comerciais.

Não por acaso, poucos dias antes da reunião do G20, o FED dos EUA lançou mão da emissão bilionária de moeda para pagar as dívidas do tesouro e fortalecer as exportações dos produtos norte-americanos com dólar desvalorizado, o que tem gerado instabilidade nas economias capitalistas mais frágeis e fricções com a Alemanha e a China, que disputam com o imperialismo ianque consumidores que possam absorver suas mercadorias.

A imprensa burguesa alardeia que a declaração final do G20 contrariou os objetivos defendidos pelos EUA e pela Coreia do Sul, de determinar metas para limitar os superávits e os déficits em conta corrente. A proposta americana teve forte oposição da China e da Alemanha, dois grandes exportadores do mundo e países com grandes superávits. Mas a realidade é que o imperialismo ianque agiu preventivamente e, como sempre, tomou medidas fiscais e monetárias independente das resoluções do encontro.

Nesse marco, o documento final do "Consenso de Seul" revela com todas as letras seu caráter farsesco. Afirma que "As economias avançadas, incluindo aquelas com moedas de reserva, permanecerão vigilantes à volatilidade excessiva e aos movimentos desordenados das taxas de câmbio. Estas ações ajudarão a reduzir o risco de excessiva volatilidade nos fluxos de capital que alguns países emergentes enfrentam". Cinicamente destaca ainda que, apesar dos "sólidos resultados" no combate à crise financeira global, alguns "desequilíbrios estão alimentando a tentação de adotar unilateralmente soluções globais, levando a ações descoordenadas. No entanto, ações políticas descoordenadas levarão apenas a resultados piores para todos". Para complementar o teatro ainda declara que "os países resistirão ao protecionismo sob todas as formas" quando esse movimento só se aprofunda mundialmente patrocinado pelos próprios governos que assinaram o documento.

O que chama a atenção na declaração é que o G20, com apoio técnico do FMI, anuncia que desenvolverá "guias de orientação" compostas por uma "variedade de indicadores" que ajudem a identificar desequilíbrios comerciais importantes que "requerem ações preventivas e corretivas". Traduzindo, os capitalistas preparam uma nova ofensiva sobre as massas e as nações oprimidas, já que a pressão para a desvalorização das moedas nas semicolônias, como o real brasileiro, significará o incremento maior da inflação, elevando consideravelmente os produtos da cesta básica alimentar nestes países. No Brasil, por exemplo, com a agricultura voltada ao mercado externo, o preço das commodities será regulado por valores internacionais muito mais elevados e incompatíveis com o poder aquisitivo de um salário arrochado e controlado pela política antioperária do governo da frente popular. No caso da China, tendo como pretexto a pressão pela desvalorização do Yuan, busca-se de fato debilitar a capacidade de exportação da indústria local para que fique menos competitiva.

Com relação ao sistema financeiro, novo embuste. Depois de injetar bilhões em socorro aos bancos, o documento afirma: "Aprovamos o acordo alcançado no Comitê de Estabilidade Financeira sobre novas regras de capitais nos bancos e liquidez". A pretensa reforma aprovada se concentra especialmente no aumento das exigências em termos de fundos próprios, liquidez, endividamento e provisões, para permitir que os bancos de importância sistêmica resistam melhor a uma eventual nova grande crise. Quando isso não resolver, novamente o Estado bancará a farra dos barões de Wall Street, enquanto as massas são mantidas em condições subumanas mundialmente.

Por fim, o G20 também respaldou a reforma do FMI que concedeu a China, Índia e Brasil, os BRICs, um suposto maior peso de decisão no organismo imperialista. Trata-se de uma medida simbólica sem qualquer consequência prática do ponto de vista da disputa de poder interburguesa. Um "pirulito para criança" que só aprofunda o servilismo destas semicolônias às potências imperialistas. Na verdade o presidente do FMI, Dominique-Strauss Kahn, buscou algum tipo de acordo de último momento que ocultasse o fracasso do encontro em Seul. "Resolvendo" uma discussão que tem mais de um ano, decidiu-se que China, Brasil e Índia aumentarão em 6% seu poder de voto no FMI, obtendo, dentro de dois anos, dois bancos do diretório atualmente ocupados por europeus.

A hilária "reforma histórica" consiste em que as principais semicolônias que cumprem um papel chave na sustentação de uma economia mundial capitalista em crise se comprometam ainda mais com as metas draconianas do FMI para atacar seus trabalhadores. Tanto que os EUA, que possuem 17,67% de participação nas cotas do FMI, continuará tendo poder de veto nas decisões centrais, que precisam de 85% dos votos dos membros do organismo. Por outra parte, a grotesca "reforma histórica" implica que juntos China, Índia, Brasil e Rússia somem apenas 14,18% dos votos, e todos os chamados países atrasados só chegariam a juntar 42,29% dos votos, questão que lhes impede de impor qualquer tipo de veto.

Por seu turno, as manifestações ocorridas em Seul com o lema "Stop 20" demonstraram a completa impotência das direções sindicais de enfrentarem a ofensiva imperialista. Essas se limitaram a convocar marchas e atos para pedir aos dirigentes capitalistas, em carta aberta assinada por centenas de entidades ligadas à social-democracia, a adoção de uma "taxa sobre transações financeiras" que "de forma prática gere entradas necessárias para sanar os déficits financeiros em escala nacional e internacional, prevenir todo tipo de especulação financeira e que sirva como fonte sustentável para financiar a saúde e o desenvolvimento" (Rebelión 12.11). Trata-se de pedir que o lobo cuide do galinheiro e o mais grave, colocando as massas completamente refém de políticas que buscam acordos com os capitalistas, não tendo como eixo o combate de classe frente à ofensiva econômica em curso!

Como dissemos desde a explosão o crash bursátil do final de 2008, os governos das metrópoles e das semicolônias buscarão sempre jogar o ônus da crise capitalista sobre os ombros dos trabalhadores, como ocorre de forma mais clara em toda a Europa hoje, como vimos recentemente na França e Grécia. Longe de abrir uma etapa de ascenso e reação operária que seria a antessala do socialismo, como previam os catastrofistas no interior da esquerda, a crise capitalista incrementa os ataques aos explorados abrindo caminho para a barbárie social. No próprio curso da chamada "guerra cambial", a burguesia já anuncia outras "guerras" como a dos alimentos, a disputa pela água do planeta e, além destas, aponta que a disputa comercial deve necessariamente arrastar-se para o terreno militar. Nossa resposta a esta conflagração patrocinada pelos grandes capitalistas contra os povos e nações oprimidas se inspira no Manifesto Comunista, escrito por Marx e Engels há mais de 150 anos e que mantém integralmente sua vigência política: "Proletários de todo o mundo, uni-vos!". A construção do partido mundial da revolução socialista é uma necessidade histórica para enfrentar o horizonte sombrio que nos vende o farseco "Consenso de Seul".

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