sábado, 11 de dezembro de 2010

Chile 2010: Terremoto, mineiros e a direita ao poder

sábado, 11 de diciembre de 2010
11 de diciembre de 2010, 08:29Santiago de Chile, (Prensa Latina) O Chile fecha um ano diferente, de referência por fatos inevitáveis: o megaterremoto de fevereiro, o resgate dos 33 mineiros, a longa greve de fome dos presos mapuches e o regresso da direita ao poder.

  Já no segundo mês do ano, no dia 27 de fevereiro, o centro e o sul do Chile, incluída a capital do país, foram sacudidos por um terremoto de 8,8 graus de intensidade na escala aberta de Richter, o quinto mais potente na história da humanidade e do que ainda não se recupera.

O movimento telúrico deixou 521 mortos, 56 desaparecidos, dois milhões de prejudicados e perdas materiais estimadas em 30 bilhões de dólares.

O ano partiu com um signo trágico, ilustrou o presidente chileno, Sebastián Piñera, em alusão à magnitude da catástrofe: quatro mil escolas danificadas, mais de 200 mil moradias destruídas, um de cada três hospitais, sete aeroportos, quatro portos.

A reconstrução definitiva vai tomar uns quatro anos, confessou o mandatário à imprensa estrangeira no Chile, ainda que tenha adiantado a aspiração de que, no final de seu segundo ano de mandato, "o grosso já esteja feito".

No entanto, a oposição chilena e autoridades municipais das zonas mais afetadas criticaram fortemente a resposta governamental às necessidades dos atingidos.

Há um nível de improviso grande nas tarefas de reparo dos danos, opina o prefeito do Bío Bío chileno, Marcelo Rivera.

Mas 2010 trouxe também aos chilenos um notável giro no palco político.

A só duas semanas do terremoto tomou posse o novo Governo, expoente dâ�Ö"a direita natural", nas palavras do sociólogo e politólogo chileno Marcos Roitman.

Para alguns é nova, para outros a mesma de sempre.

A administração do presidente Piñera, resultado do triunfo nas urnas da aliança dos partidos Renovação Nacional e União Democrata Independente, é de um matriz empresarial e oligárquico, marcada por um pensamento conservador, defensor até a morte do modelo neoliberal.

Em uma avaliação alusiva à mensagem à nação do mandatário depois dos primeiros 100 dias de seu Governo, a revista chilena Punto Final apontava como em sua evocação o chefe de Estado seguia as orientações da "nova direita" européia, empenhada em somar ao centro político.

No caso do Chile esse propósito representava também uma ponte de continuidade com as políticas dos governos da Concertación, ainda que em um degrau mais alto e "mais puro", orientado a insuflar novos ares ao neoliberalismo chileno.

Chile: fervedouro de protestos sociais

Em 2010, os chilenos tiveram seu oásis de felicidade.

Junho lhes fez viver dias de júbilo pela classificação da Vermelha na Copa Mundial da África do Sul, onde a seleção nacional de futebol, dirigida pelo carismático argentino Marcelo Bielsa, destacou-se frente a difíceis adversários e terminou dignamente nas oitavas de final.

Em setembro festejaram durante quatro dias o Bicentenário da Independência do país, celebrações pátrias nas quais os povos originários, contanto, expressaram não se sentir incluídos e recordaram que os últimos 200 anos foram e seguem sendo para eles de exclusão e de atropelo de seus direitos.

Depois sobreviria o espetacular e midiático resgate dos 33 mineiros, quem sobreviveram 70 dias a 700 metros de profundidade em uma mina do norte do Chile.

O acontecimento, que impactou a milhões de pessoas em todo mundo pela cobertura midiática, disparou a popularidade do governo em seu nível mais alto no ano, de acordo com pesquisas de opinião.

Claro, o sonoro resgate também pôs sobre o tapete o lado escuro da mineração no Chile, acometida por maiúsculos problemas de insegurança trabalhista.

Quase no ocaso de 2010 uma pesquisa da Consultora Adimark refletiu um declive importante na aprovação do gerenciamento da administração presidida por Piñera.

A referida assinatura, de selo empresarial, situou em 13 pontos percentuais a queda da aceitação popular em relação ao mês precedente, queda interpretada no Chile como uma volta à normalidade, depois da atmosfera associada ao regresso à vida dâ�Ö"os 33".

"Acabou-se o espelhismo", opinou o presidente do Partido Socialista, Osvaldo Andrade.

No segundo semestre do ano, certamente subiu a temperatura no palco político chileno.

À altura de agosto irrompeu na opinião pública a prolongada greve de fome de 34 presos da etnia mapuche, encriminados pela questionada lei antiterrorista, norma que data dos anos da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

Apesar do habitual desdém dos monopólios informativos da direita no Chile pela histórica luta dos mapuches, o respaldo de amplos setores da população e da oposição durante os protestos dos grevistas forçou a hierarquização do tema na agenda política.

A dívida histórica do Estado chileno com os povos originários estará entre os tópicos mais desafiadores para o novo Governo em 2011, de igual modo que a articulação cada vez maior do protesto social.

Está inocultável no Chile o descontentamento dos trabalhadores de importantes setores da sociedade como a Mineração, a Energia, a Saúde, a Educação, o Transporte e a Administração Pública.

Esse mal-estar alude à precariedade salarial e trabalhista em geral e expressou-se por meio de greves, marchas e manifestações de todo tipo.

Estudantes, professores e acadêmicos mobilizaram-se também contra uma projetada reforma educacional que recusam por seu caráter privatizador e porque consideram que, em conseqüência, lesiona profundamente o ensino público em Chile.

Em seu último editorial, o jornal chileno El Siglo advertia que "nem a parafernália teletónica (alusão ao Teletón) consegue a recuperação do passo do La Moneda, enquanto se somam as demissões (...) e a gente começa a perceber de forma cada vez mais clara que a tal "coalizão pela mudança" não tem de tal senão a palavra "mudo" em tudo o que soa e cheire a transações e especulações bursáteis".

Ao fechamento do convulso 2010 chileno também se destacava o drama dos indígenas rapanui na Ilha de Páscoa e o dantesco panorama do sistema penitenciário chileno, detonante da horrível morte que encontraram 81 réus em uma prisão de Santiago.

(*) A autora é co-responsável da Prensa Latina no Chile.

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